João Lourenço está determinado a fazer avançar o Centro de Estudos do Estado Novo e Museu Salazar, mas deixa claro que não se trata de “nenhuma homenagem”. O presidente da Câmara de Santa Comba Dão vai reunir, no próximo dia 6 de Fevereiro, em Lisboa, com a ministra da Cultura para apresentar as ideias do futuro Centro de Estudos do Estado Novo e o Museu Salazar, no Vimieiro. Mas João Lourenço mostra-se crítico com Isabel Pires de Lima, por esta já ter dito que o seu ministério não pretende apoiar a construção deste museu. “Se a intenção é fazer uma casa-museu para guardar documentação e preservar espólio pessoal, nunca apoiarei o projecto”, referiu, na semana passada, a ministra da Cultura, à saída do debate mensal na Assembleia da República. “Foi uma reacção que não nos agradou muito, por parte da ministra”, admitiu ao DIÁRIO AS BEIRAS o autarca do PSD, acrescentando que a governante “deve estar confundida, porque não é isso que nós pretendemos”.
João Lourenço deixa claro que o seu município pretende, “apenas”, o apoio institucional e técnico do ministério e não apoio financeiro. “Temos um projecto que pode trazer dinâmica, em termos de turismo e de cultura”, refere, para questionar: “por que razão é que não se deve apoiar?”.
O projecto para a criação do museu está a ser elaborado e o autarca adiantou que, se não tiver o apoio do ministério, irá avançar na mesma. “Não vai ser pelo facto de a ministra não acreditar no projecto, ou não querer apoiá-lo, que ele vai parar”, sublinhou.
No entanto, diz que gostaria de ter o apoio do ministério da Cultura. “Se não for possível, paciência. Poderá demorar mais tempo, mas vamos fazê-lo na mesma”. Na sua opinião, não vê razões para não ser apoiado. “Têm sido apoiados projectos com menos significado que este”, afirma. Os milhões que têm sido anunciados para vários projectos, a nível nacional, “têm esquecido” esta região. “Até por isso esta seria uma boa ocasião para alterar essa situação”, sublinha. “Temos consciência que existem fantasmas, mas vamos ver se eles não ensombram o nosso projecto”, salienta. João Lourenço lembra, aliás, que este projecto foi iniciado pelo anterior autarca santacombadense, Orlando Mendes (PS), e “mereceu, então, o apoio, na altura, do ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho, no tempo do governo do António Guterres”.
Noutro plano, o autarca revela que este projecto “não é nenhuma homenagem a Salazar. Ele já morreu, já não volta”. No seu entender a democracia, em Portugal, “está bem consolidada, não existe nenhum problema para isto retroceder”. Por isso, pergunta: “por que razão têm as pessoas medo?”. O edil social-democrata, que nas últimas eleições ganhou a câmara ao PS, não aceita as críticas ao projecto, e frisa: “mais democrata que eu não há. Pode haver iguais. Por isso não aceito lições de pessoas que, por terem ideias antifascistas, pensam que são mais democratas do que eu, mas não são”.
Centro de estudos do estado novo
O objectivo do centro de estudos e museu, a instalar na antiga casa e quinta onde Salazar nasceu, no Vimieiro, passa por “proporcionar às novas gerações e aos que viveram o Estado Novo, uma abordagem séria e pragmática e, portanto, isenta de qualquer carga ideológica, desse período da história de Portugal, aproveitando-se um manancial de documentos e bens pessoais que se encontram na posse do município”. A câmara já possui cerca de 13 mil documentos referentes a Salazar, muitos deles que eram pertença de Rui Salazar de Lucena e Mello, sobrinho neto do filho do feitor do Vimieiro. O projecto ainda não está concluído mas as ideias para o espaço pretendem transformar a eira da quinta num restaurante e casa de chá, enquanto a antiga adega poderá albergar um auditório e a casa acolherá o espólio museológico.
Fonte: As Beiras