União de Resistentes Antifascistas Portugueses está a organizar uma sessão pública e um abaixo-assinado de protesto contra iniciativa da câmara.A União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) está contra a possível criação, por parte da Câmara Municipal de Santa Comba Dão, de um museu sobre o período do Estado Novo e Salazar.O núcleo de Viseu e Santa Comba Dão desta entidade marcou para o próximo dia 3 de Março, pelas 15H00, uma “sessão pública de afirmação dos ideais antifascistas”. A sessão decorrerá no auditório municipal santacombadense e conta com a participação do coordenador do conselho directivo da URAP, Aurélio Santos.Alberto Andrade, da URAP, adiantou, ontem, ao DIÁRIO AS BEIRAS, que está igualmente previsto lançar um abaixo-assinado contra esta intenção do município.Para aquele elemento da URAP, a autarquia quer “criar uma organização centrada na propaganda da ditadura corporativo-fascista, em conflito com a Constituição da República e afrontando todos os portugueses que se identificam com a democracia e o acto fundador do 25 de Abril”. “Realizamos esta sessão pública, porque é preciso, imperioso e urgente afirmar os ideais antifascistas em Santa Comba Dão e em todo o país, e travar mais esta tentativa de branqueamento do fascismo e de degradação do regime democrático”, frisou.Mostra-se igualmente crítico pelo facto de a autarquia ter efectuado um protocolo com Rui Salazar Mello, sobrinho-neto de Salazar, “em que irá pagar dois mil euros por mês para este senhor fazer parte da gestão do museu, em troca da cedência de documentos do ditador”.O presidente da autarquia de Santa Comba Dão lamenta, por seu turno, a posição do movimento, sustentando que 33 anos após o 25 de Abril de 1974, “o fascismo em Portugal já morreu há muito e está bem enterrado e ninguém tem vontade de o desenterrar”.Lembrou que este projecto foi iniciado pelo anterior autarca santacombadense, Orlando Mendes (PS), e “mereceu o apoio na altura do ministro da cultura, Manuel Maria Carrilho, no tempo do governo de António Guterres”, que chegou a deslocar-se a Santa Comba Dão.“Trata-se de repor a história no seu devido lugar e, ao mesmo tempo, criar condições para que a economia do concelho se possa mexer. Essas leituras que fazem são transversais e tortuosas”, sublinhou João Lourenço, garantindo que o objectivo “não é fazer uma homenagem a Salazar”.“Então para que serve o estojo da barba, o carro e outros objectos pessoais? Se isto não é personificar Salazar, o que é então?”, questionou Alberto Andrade.Segundo João Lourenço, apesar de ainda não haver um projecto concreto (que só avançará depois de concluída a negociação), “o conceito já está definido”, estando mesmo prevista a construção de uma sala dedicada à luta antifascista, por parte de pessoas que foram presas e torturadas pelo regime.“Queremos construir uma casa-museu de Salazar, onde teremos o seu espólio, que vai atrair as pessoas, e também um centro de estudos e documental, onde estarão largos milhares de documentos e livros”, explico o autarca.Uma terceira vertente do projecto que a autarquia gostaria de concretizar, mas que não tem ainda definido de que forma poderá fazê-lo, é a criação “de um parque temático dedicado às artes do Estado Novo”. “Esta seria a vertente que tornaria o projecto sustentável. Economicamente, temos de arranjar qualquer coisa que gere receitas”, justificou o autarca.A Assembleia Municipal de Santa Comba Dão já manifestou “todo o apoio a qualquer iniciativa da Câmara” com vista à criação do museu.No ano passado, a autarquia recebeu, por doação, de Rui Lucena Salazar e Mello, sobrinho-neto de Oliveira Salazar, um terço dos bens imóveis da herança da família de Salazar, que era natural da freguesia de Vimieiro. “Estamos a negociar com outro herdeiro os restantes dois terços e, neste momento, há avanços muitos fortes para chegarmos a acordo”, disse ainda o presidente da autarquia de Santa Comba Dão, João Lourenço (PSD/CDS- PP).Ao mesmo tempo, a autarquia “está a mover um processo de expropriação por declaração de utilidade pública” desse património do estadista, “para o caso de falhar a negociação”, concluiu.
As Beiras