Toponímias - Cabanas de Viriato
O topónimo Beijós é único — de origem pré-romana, dum étimo cuja provável tradução em caracteres latinos será Basioos (lê-se entre baziós e bajiós), foi Beagioos (lê-se tal e qual como a versão actual) nos escritos em latim e Beijoz ou Beijós na escrita moderna.
Menos sorte tiveram os nossos vizinhos, habitando locais de toponímia muito comum, como Penedo, Pardieiros, Póvoa ou Cabanas. Por alturas da I República, os Correios e Telégrafos de Portugal deparavam-se com problemas para entregar cartas e telegramas dirigidos a localidades cujos topónimos não eram distinguíveis. Entre os casos mais graves, incluía-se Cabanas, que designava oito localidades importantes em todo o país. Em vez de criarem o código postal, os Correios pediram às autoridades locais que sugerissem topónimos diferenciados, e foi assim que um grupo de cabanenses sugeriu o apêndice «de Viriato» — note-se que nos Censos a nomenclatura Cabanas de Viriato só aparece, pela primeira vez, em 1991!!
Em poucos anos, lá se tornou o Viriato a «Identidade da Nossa Terra». Tudo bem! Ou talvez não… o problema é que Viriato é uma entidade mitológica e qualquer localidade situada algures no território onde lutavam os lusitanos se pode reivindicar «de Viriato». Por exemplo, em Santiago de Alcántara (Extremadura Espanhola), Viriato "passou" os primeiros anos de casado numa gruta onde se encontraram pinturas rupestres. Na mesma zona, La Vera reivindica a origem do herói, sendo Viriato uma deformação de Verato, que designa os habitantes de Vera… por supuesto! Muito mais a norte, na Provincia de Zamora, Torrefrades apresenta a casa onde ele nasceu — o facto da casa ser uns 1300 anos mais recente que o Viriato é insignificante, quando comparado com a época em que a designação chegou a Cabanas. Seja como for, Viriato é importante para a «identidade da terra» de Zamora, por isso aqui deixo uma foto da sua estátua naquela cidade, ao lado da de Cabanas.
Está bem de ver que os heróis representados nestas duas estátuas pouco têm em comum, o que ficará a dever-se à multiplicidade de caracteres que lhe são atribuídos. O Beijós XXI anda em busca do verdadeiro Viriato e promete uma foto sua para breve, mas, entretanto, fica uma pequena nota sobre os mitos associados a este líder militar.
Não sabemos praticamente nada sobre os povos que habitavam as regiões interiores do que viria a ser a província Lusitannia, apenas os conhecemos indirectamente pelos relatos dos autores romanos, que atribuíram a OVRIATHOU diversas facetas lendárias que pudessem justificar o insucesso das legiões romanas nas guerras púnicas… Camões e a propaganda do Estado Novo fizeram o resto!
O principal carácter que lhe é atribuído é pastor — na ideologia das civilizações clássicas, pastor é o equivalente ao cowboy de Hollywood: insubmisso, justiceiro, nómada, idealista, mortífero, mas seguindo um código nobre que rejeita a covardia, a chantagem, a corrupção, a traição. Tal como o cowboy, este pastor deixa sempre uma donzela perdida de amores pelos sítios por onde passa.
A outra face da moeda é o carácter de latro, i.e., aquele que se dedica ao latrocinium, termo que designa latrocínio, mas também a forma de combate de guerrilha. Os cabanenses poderão apreciar Viriato como guerrilheiro, mas não devem perder de vista que, muito provavelmente, o saque e a violação predominavam nas relações da sua horda com muitos dos povoados por onde passavam!
Finalmente, o que realmente eleva a figura mítica de Viriato é ter sido assassinado a mando dum chefe romano, mas com a colaboração dos seus correligionários traidores. Deu-lhe um carácter de invencibilidade, mas também de mártir, o que é muito apreciado na cultura mediterrânica…
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Links para os outros posts eleitos pelo público:
Post do Ano 2006
2º Classificado: Diário da 1ª Guerra Mundial
3º Classificado: Campo de ensaios na Quinta das Chãs
23 Beijos:
Muito bom, Beijokense!
6 estrêlas !!!
O Viriato da esquerda não prima muito pela beleza. E ainda dizem que era muito procurado pelas moças ...
o da direita tem ar de quem procurava moços
pudera.....é espanhol!!!!
O que se aprende no Beijós XXI !
O artigo é muito giro, mas Cabanas já acompanhava com Viriato antes de 1991, ou seria desde 1891?
Afinal, na grandeza do nobre Guerreiro todas as in-virtudes encaixavam perfeitamente, menos aquela pose ... Lá diz o ditado... quem não sabe inventa !!!
... parece existir ali um monólogo entre aquelas estátuas, ,,,«guarda lá essa espada»
Brilhante !
Cabanas de Viriato já aparecia nos endereços de correio há mais de 50 anos. O interessante da história de Viriato é que foi um lider de um povo Lusitano que lutou pela sua independencia e auto-determinação. Temos orgulho de ter sangue lusitano, entre outros.
Que sejamos dignos qus lembrem de nós daqui a 10 anos, como nos lembramos de Viriato desde há 1000 anos.
Não posso precisar o ano a partir do qual Viriato chegou a Cabanas para efeitos de correspondência postal, mas creio que terá sido em finais de 20, princípios de 30, do séc. XX
Quando à nomenclatura para fins estatísticos do INE, só lá foi posto em 1991 (não é gralha :). Antes as Cabanas estavam sós ou acompanhadas do oráculo S. Cristóvão.
) Dr. Aristides de sousa Mendes, foi quem fez adicionar "VIRIATO".
Ha um banco, encrostado na parede
do terreno, que pertenceu ao Sr. Alfredo Miranda.Em que o Dr. Sousa Mendes dizia, que Viriato descansou ali.Isto e mais lenda menos lenda.Da ilusao tambem se vive.
De qualquer modo dá para ver por ambos os Viriatos que era um Homem Rijo, muito Rijo.
Cabanas de Viriato? Qualquer dia, faço uma visita para ver a casa do cônsul herói Aristides de Sousa Mendes.
Flávio,
Bem-vindo ao Beijós XXI,
Manda Beijós a toda a Gente.
Acredito que sim, Imigrante. Ele próprio se acrescentou «do Amaral e Abranches» quando já era trintão... tinha jeito para o branding :)
Puro Sangue Lusitano só na Quinta do Pombal !
:D Bem visto, andorinha ;-)
BEIJOKENSE: A adicao "Amaral e Abranches" vem aumentar o prestijio, as gentes de Beijos.O pai de Sousa Mendes nasceu em Beijos.Jose de Sousa Mendes, filho de Manuel de Sousa e de Raquel Mendes. Dr. Sousa Mendes,um dos seus ancesters, foi Bernardino Pais do Amaral, natural de Beijos.
Abranches e a adaptacao ao portugues de Avrenches, uma pequena cidade francesa nas Flandres.Em que um Dom Pedro foi Duque.Pelos servicos prestados a coroa Inglesa.Tenho tudo isso, nos meus canhanhos,mas o tempo e escasso.Sigo para a Madeira amanha.
O motivo por dados mais corretos.
E me impossivel estar ai no proximo dia 20.Ate breve.
Até breve, Imigrante. Boa viagem. Eu também tenho alguns dados sobre a ascendência do dr. Aristides - o seu avô materno era Silvério Coelho Pais do Amaral (daí o Amaral, uma importante linhagem, também ligada a Beijós, quer os Pais do Amaral, quer os Coelho do Amaral) e a sua avó materna foi Mª dos Prazeres Ribeiro de Abranches, descendente de D. Afonso Henriques.
No Baptismo puseram aos gémeos César e Aristides apenas os apelidos do pai, eles depois acrescentaram os outros, procurando elevar o seu status, mas também marcando a sua posição monárquica, contra o regime da I República.
sou descendente dos Paes do Amaral de Beijós e de Cabanas e Currelos.Como se pode ter mais informação destes que falam nestes comentários e noutros?
Maria Campos, talvez eu possa ajudar: beijokense@gmail.com
Sem querer confrontar este blogue ou criar ofensa acho que este blog de Beijos deveria ser menos anti-Cabanas. Tem um artigo do Sr Aristides De Sousa Mendes a informar que afinal ele e um Beijokense...depois "rouba-nos" o Viriato...a seguir mudam-nos pro Afeganistao!!
Mais um com a mania da perseguição, este deve ser Sportinguista, coitado.
Sou Aguia de coracao e sem penas.
Caro anónimo (suponho que cabanense),
não me parece justo que considere o Beijós XXI anti-Cabanas. Pelo contrário, há muitas postagens evidenciando eventos e organizações cabanenses. Quanto aos assuntos que refere:
1 - Ninguém retirou a naturalidade a Aristides. Apenas se disse que ele é documentado filho, neto, marido e pai de beijosenses.
2 - O conhecimento que hoje se tem de Viriato permite-nos negar que alguma vez ele tenha estado por estas bandas. Nem em Beijós, nem em Cabanas, nem em Viseu. Não se percebe por que é um herói "português", quando, com quase toda a certeza, nasceu, viveu e morreu em território que hoje pertence a Espanha!
Considerei oportuno fazer este post porque muitos leitores, sobretudo os mais novos, não tinham a percepção de que o apêndice "de Viriato" em Cabanas tem menos de 100 anos. Há 30 e poucos anos, ainda não havia Viriato nos carimbos dos CTT, p. ex.
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