TGL
Enquanto os profetas das velocidades e seus acólitos extasiam com visões de um TGV (Train à Grande Vitesse) entre Lisboa Alcochete e Porto, o interior já garantiu as TGL (Télécommunications à Grande Lenteur).
O tema já foi aqui abordado neste post em 4 de Julho, mas voltou à actualidade pela voz do Presidente da República esta semana, na sessão de abertura do 18º Congresso das Comunicações. Diz o Jornal de Negócios que o PR «aproveitou o congresso para apelar a que as regiões mais desfavorecidas, e que conduzem a menos rentabilidade económica, possam ter as mesmas condições de acesso às novas redes, que permitirão maiores velocidades de acesso. “A discriminação negativa no acesso às comunicações constitui uma falha de mercado que põe em causa a coesão nacional. Se não for combatida, agravará os já de si severos problemas sócio-económicos e demográficos com que algumas regiões se defrontam, originando, a médio prazo, novos focos de exclusão social”».
O PR, considerado de direita, a chamar a atenção para a exclusão comunicacional / social; o Governo, considerado de esquerda, mais preocupado com a rendibilidade competitividade dos operadores; o Ministro dos Desertos, que ainda há pouco tempo administrava o Avante!, é agora apóstolo da mão invisível. A política dá muitas voltas, mas nada parece fazer mudar a sina do interior :(
1 Beijos:
Caro amigo, telecoms a grande vitesse são as do SIRESP
Cinco protagonistas num negócio que atravessou quatro governos
António Guterres
Em Agosto de 1999, um Conselho de Ministros presidido pelo então primeiro-ministro António Guterres estabelece que é vital garantir a operacionalidade entre as comunicações de emergência e segurança, considerando aconselhável a instalação de uma infra-estrutura única que sirva de suporte às várias polícias, protecção civil e outras entidades. A decisão restringe as soluções tecnológicas ao sistema Tetra. Em Janeiro de 2001 é criado um grupo de trabalho para estudar o futuro sistema, presidido por Almiro de Oliveira, que pressiona o Governo - então acusado de já ter a decisão parcialmente tomada, ao optar pelo Tetra - no sentido de alargar o leque de soluções tecnológicas.
Daniel Sanches
Magistrado do Ministério Público desde 1973, Sanches foi director adjunto da PJ entre 84 e 88. Passou ainda pela direcção do SEF entre 88 e 94, ano em que se tornou director do Serviço de Informações de Segurança. Em 2000 larga todos os cargos na administração pública para se tornar consultor e administrador de empresas no grupo Sociedade Lusa de Negócios (SLN), ao qual, a 23 de Fevereiro de 2003 - na qualidade de ministro da Administração Interna do Governo Santana Lopes e três dias depois de perder as eleições legislativas -, adjudica um contrato de 538,2 milhões de euros. No grupo SLN foi administrador da Pleiade, presidente da Vsegur e secretário da assembleia geral do BPN.
Manuel Dias Loureiro
Foi ministro da Administração Interna de Cavaco Silva, deputado do PSD e presidente da mesa do congresso, sendo um dos notáveis do partido. O seu nome aparece ligado desde o início ao negócio do sistema de comunicações do Estado, já que na altura em que Daniel Sanches adjudicou o SIRESP à SLN, Dias Loureiro era administrador não executivo do grupo. Fazendo questão de dizer que não tinha qualquer quota na "holding", nunca soube explicar que interesses defendia no grupo, já que não era um administrador de carreira. Por outro lado, foi, como Daniel Sanches, administrador da Pleiade e também esteve com este na Vsegur, antes de Sanches integrar o Governo de Santana Lopes.
José Oliveira e Costa
Ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais de Cavaco Silva, Oliveira e Costa era o presidente do grupo SLN na altura em que Daniel Sanches fez a primeira adjudicação do SIRESP ao consórcio. A sua filha é presidente de uma das empresas do grupo, a Datacomp, que também faz parte do consórcio vencedor. Ambos foram constituídos arguidos no processo judicial arquivado em Março. O BPN, do grupo SLN, está neste momento a ser investigado na "Operação Furação", que avalia suspeitas de fraude fiscal e branqueamento de capitais. Há ainda outro inquérito a correr contra o BPN, que teve por base queixas de pessoas que integram o próprio banco. Oliveira e Costa afastou-se da presidência mas mantém-se na retaguarda.
António Costa
O ministro da Administração Interna de José Sócrates apanha o "dossier" SIRESP numa altura em que Daniel Sanches já tinha feito a adjudicação ao único consórcio que apresentou uma proposta, a SLN. António Costa pediu vários pareceres sobre o SIRESP e foi apoiado num, da Procuradoria-Geral da República, que decretou nula a adjudicação feita por Sanches. Como o concurso continuava válido não podia anulá-lo, mas podia simplesmente optar por não adjudicar o sistema à SLN, considerando que a proposta feita não era satisfatória. Não foi essa a sua decisão e voltou a renegociar o contrato, conseguindo descer o preço em cerca de 50 milhões de euros depois de prescindir de algumas funcionalidades do sistema.
Publico 2-6-2008
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