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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

Poesia de Guerra - 3, José Pais dos Santos

Poesia de Guerra – 3
Guerra das Trincheiras em França - 1917...


(cont.)
Para esquecera pátria amada
E não temer as granadas
Trago a cabeça zoada
Com os estrondos dos canhões.

21º
Eu penso na minha vida
Para melhor passar o tempo
Meus senhores em que momento
Foi em que me vi assentar praça
Quando pela ideia me passa
Eu, ponho-me a imaginar
Por em França me encontrar
Em combates decisivos
Vejo homens enterrados vivos,
Olhem que isto faz cismar.

22º
Ai! Portugal! Portugal!!
Mandas os homens para a guerra
A nossa aliança de Inglaterra
E tudo bem e nada mal
Estamos no campo fatal
Mostramos o nosso valor
A vida perdemos, o amor
Na situação em que estamos
Já que assim nos encontramos
Nada nos mete terror.

23º
A guerra é com a Alemanha
Estamos ao lado da Inglaterra
Os portugueses vêm para a guerra
E quem está neutra é a Espanha
Os espanhóis só têm manha
Quem sabe o que farão
Querem talvez ferrar o cão
Mas acham-se enganados
Podem perder as cidades
Pensam nisso, mas em vão.

24º
Estamos aqui a combater
Talvez para deixar a vida.
Não consideramos em que vida
Aonde nos viemos meter
Todos sujeitos a morrer
Ao lado dos Ingleses
Ponho-me a cismar às vezes
Como a triste sorte avança
O que eu mais vejo em França
É, cemitérios portugueses.

25º
Com as muitas posições
De morteiros e artilharia
Já ninguém se destinguia
Com o troar dos canhões
No teatro de operações
Vejo ossos e caveiras
Ali dentro das trincheiras
Estamos a combater
Não, como pode haver
Tantas metralhadoras ligeiras

26º
Vejo campos abandonados
Que sustentavam muita gente
E por toda aquela frente
Tudo pela guerra causado
Em todo campo entrincheirado
Só vejo arvores queimadas
Pelo fogo das granadas
Assim o posso dizer
O que nós estamos a ver
E as vilas e fábricas esmagadas

27º
Os campos abandonados
Que fruto já não dão
É da forma que não há pão
Vejo combates encarniçados
Os campos estão escavados
Isto em estranhos impérios
Os combates são casos sérios
E escrito por mim só
São casos que metem dó
Pois só vejo cemitérios.

28º
Só vejo o arame farpado
Qualquer um pode dizer
Encontro-me a combater
Nas trincheiras enjaulado
Estou muito enfadado
Durmo com as costas no chão
Quero comer, não tenho pão
Falo verdade não minto...
Dão só um pão para cinco
Queixo-me, tenho razão...

29º
Ao abrigo das trincheiras
Espero escapar da morte
Peço a Deus a boa sorte
Assim estou desta maneira
À espera de que Deus Queira
Olhem que isto faz abanar
As granadas arrebentam
Do maldito alemão
Aqui anda um cidadão
Que vem a morte, procurar.

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Poesia (original) - 3 * 13FEV2006
Poesia (transcrição) - 2 * 08FEV2006
Poesia (original) - 2 * 07FEV2006
Poesia (transcrição) - 1 * 01FEV2006
Poesia (original) - 1 * 30JAN2006

2 Beijos:

Anónimo disse...

Isto não é só poesia. Tem um valor histórico imenso. Não creio haver muitos relatos destes, escritos nas próprias trincheiras....

Anónimo disse...

Histórico

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