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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006

Poesia - 1, José Pais dos Santos

Poesia - 1
José Pais dos Santos

Despedida de Portugal para França em 1917...



A caminho do campo fatal,
Iria sem que me custasse.
Se acaso me não lembrasse,
Desse carinho divinal.
Causador de todo o mal,
Que na minha mente está.
Por isso lhe digo já,
É, me cara a sua ternura.
Pois na maior desventura,
Vou para a Guerra, parto já.


Juro que não pouparei
Papel para lhe escrever,
Embora, que não possa ser
Mas o maior cuidado terei
Que nunca me esquecerei
De quem tanto mimo me deu,
Mais feliz seria eu
Se lhe tivesse menor feição
Não ia com tanta paixão
A cumprir o dever meu.


Disse adeus a minha terra,
Ao lar onde fui criado
Parti triste e apaixonado
A caminho da dura Guerra.
A grande paixão que me aterra
Nesta custosa despedida
Se escapar com minha vida
Terei muito que contar
Não ande por cá a chorar
Adeus minha mãe querida.


Adeus pai a quem quero tanto
Adeus manos do coração
Sinto a vossa paixão
Que cai em enorme pranto
Meu coração cheio de encanto
Parece que tudo morreu,
Ai, de mim, que farei eu
No vigor da minha vida
Adeus minha mãe querida
Abençoe este filho seu


Ao despedir-me, fui assustado
Em dúvida de não tornar a ver
É da gente enlouquecer
Em tão deplorável estado
No coração amargurado
Semeei amargura um ponto está
Por não saber se mais verá
De quem também era tratado
Muito triste apaixonado
Vou para a guerra e parto já.


Vou cumprir um dever meu,
A caminho do campo fatal.
Adeus lindo Portugal
Quem sabe se te tornarei a ver
Se eu em França não morrer
Quando me vier embora
O mesmo que hoje chora
Alegre se háde tornar.
Mas hoje a soluçar
Vou para a guerra sem demora.


Adeus minha terra natal
Adeus minha mãe querida
Se eu findar com minha vida
Fora do lindo Portugal
Peço a todos em geral
E por especial favor
Peçam a nosso senhor
Que me leve a sua companhia
Adeus símbolo da alegria
Que adeus te digo com dor.


Adeus parentes e amigos
Adeus pai tão extremoso
Adeus lar delicioso
Adeus manos tão queridos
No meio de ais e gemidos
De vós me vou sem demora
Adeus moças vou-me embora
Por vós sinto grande paixão,
Adeus mãe do coração
Que minha alma sempre chora


Pela Guerra arrebatada
Em campanha vou entrar
Ali vou experimentar
Um viver angustiado
Pela morte ameaçado
Passo dias desventurados
Assassinando desgraçados
Que escravos como eu são
Acompanhado o canhão
Sofrendo desgostos dobrados.

10º
Recorda o pai adorado
A mãe que chorando por ele está,
Os manos que não mais verá
Em tudo se vê atormentado
Recordando o seu bem amado
Chega às vezes a soluçar.
(cont.)

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A pedido de alguns leitores do Beijós XXI, aqui fica transcrito a poesia de José Pais dos Santos.
Poesia conforme leitura do texto original publicado no Beijós XXI:
Diário de Guerra - Poesia - 1.

5 Beijos:

Anónimo disse...

Estou espantado. Isto merecia ser publicado....

Anónimo disse...

Temos Poeta.
Jbatista está a ser publicado no Beijós XXI.

António disse...

O Beijós XXI orgulha-se de publicar a poesia de José Pais dos Santos.
E Beijós tem motivos para se orgulhar de ter Gente como José Pais dos Santos.
Revela-se o Homem no Poeta.
Saudações Beijosenses.

António disse...

O expólio do Beijós XXI, representa já um marco importante na divulgação da cultura e história da no zona.
O contributo legado por este Beijosense é de facto notável.
Deixo aqui expresso o meu profundo respeito por José Pais dos Santos.
Pais dos Santos escreve em 1917, revelado uma sensibilidade e uma grandeza de carácter universalista, verdadeiramente invulgares.
Parece que adivinhava, um dia os seus escritos seriam disponibilizados aos olhos do mundo.
Tiro o chapéu a José Pais dos Santos,permitam-me nomea-lo:
Grande Senhor do Mérito do Beijós XXI.

Nuno disse...

Espectáculo!

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