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quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

Poesia - 2, José Pais dos Santos

Poesia de Guerra – 2
Despedida de Portugal para França em 1917...


(Cont.)
(...)
Constantemente a penar,
Assim está noite e dia
Sofre a maior agonia
Por em guerra se encontrar.

11ª
Quando de Viseu saí
No comboio fui embarcar
Sem nada me demorar
Para Lisboa me encaminhei
Até que ali cheguei
Não podemos embarcar
Para Braço de Prata fomos acampar
3 semanas ali passei
A 15 de Março embarquei
Fomos tomar novo ar.

12ª
Em cima de água me encontrei
A 15 de Março justamente
Em 19 do mesmo, mal contente
Terra francesa pisei
E sem demora tomei
O comboio em que segui!
Cinquenta e tal horas passei ali,
A caminho de noite e dia
Foi quando estremeci

13ª
A 24 de Março, marcha segui,
Depois do comboio apear
A Thérouane fomos acantonar
Com o custado no chão dormi
Frio como eu passei ali,
Nunca na vida passei
Sem mantas eu pernoitei
Deitado no duro chão
Vime na maior solidão
Logo que a França cheguei.

14ª
Por me não darem de comer
Nem haver onde comprar
Tive aquela noite de suportar
Fome e frio a valer
No dia seguinte amanhecer
Não havia se não lamentos
Meu senhor em que momento
Um café eu fui tomar
Tudo andava a tiritar
Passámos grandes tormentos.

15ª
Mas a desgraça era tal
Que se eu queria comer
Tinha eu que o fazer
Assim como todos em geral
Desde que sai de Portugal
Fome e mais fome, passei
Pois em quanto não me avezei
Aos comeres que havia,
Passei cruel agonia
Eu nunca mais duvidei

16ª
Tudo adverso se me foi tornar
Logo que Portugal deixei
O trato logo estranhei
Por muito assim me custar
Comer carne cavalar
Que sempre me repugnou
Só a fome me obrigou
A tais refeições entrar
Logo que Portugal me fizeram deixar
A triste sorte me cercou

17ª
A 10 de Maio justamente
Nas trincheiras dei entrada
O canhão me acompanhava
De repente eu, o carreguei
Mas eu é que não sosseguei
Sem as trincheiras inimigas ver
Comecei então a entender
O que a guerra custava
Foi quando eu me preparava
Que comecei a combater.

18ª
Vejo campos desbaratados
Vilas, cidades sem rigor
Tudo isto me mete dor
Por em campanha me encontrar
Terei muito que contar.
Se escapar com minha vida
Da entrada até à saída
Só ouço o troar dos canhões
Aqui os que são pimpões
Andam de orelha caída.

19ª
Hoje encontro-me a combater
A caminho do campo fatal
Lembra-me Portugal
Que nunca me háde esquecer
Estou sujeito a morrer
Eu sofro grande paixão
Entrego-me à escravidão
A caminho da dura guerra
A grande paixão que me aterra
Eu vivo na solidão.

20ª
Pela guerra me encontrar
Mesmo dentro das trincheiras
Meto as mãos nas algibeiras
No meio do campo fatal
Lembra-me Portugal
Eu fumo a cigarrada...
(Cont.)
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Poesia (original) - 2 * 07FEV2006
Poesia (transcrição) - 1 * 01FEV2006
Poesia (original) - 1 * 30JAN2006
António Monteiro de Oliveira nasceu em 1883, em Carnide.
Em 1913 entra para o exército, como Alferes-Médico.
Em 1917 preparava-se a intervenção militar na Flandres ao lado dos Aliados. Nos dois anos seguintes o Capitão António Monteiro de Oliveira integrou o CEP (Corpo Expedicionário Português).
As forças portuguesas ficariam subordinadas à BEF (British Expeditionary Force). E em Fevereiro desse ano, depois de vários meses de preparativos e treinos militares, o primeiro contingente português do CEP (em que o meu avô estava integrado) desembarcou no porto de Brest e dirigiu-se para a zona de Thérouane, na Flandres francesa.Só regressaria definitivamente a Portugal em 1919.
Julgamos que o médico António Monteiro de Oliveira terá participado na 1ª Guerra Mundial, ao lado do nosso conterrâneo José Pais dos Santos.

4 Beijos:

Marco Oliveira disse...

Obrigado pela referência.
Vou aparecer por aqui mais vezes.

Anónimo disse...

Só quero aqui deixar votos de melhoras ao senhor Albertino que neste momento deve estar no bloco operatório. Que Deus lhe dê muita força e coragem...

Micas10 disse...

"Da entrada até à saída
Só ouço o troar dos canhões
Aqui os que são pimpões
Andam de orelha caída"

Grande observação aos valentes da esplanada...

António disse...

Marco
Bem-Vindo ao Beijós XXI
Manda Beijós a toda a Gente.

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