Assassinato por motivos políticos em Beijós
Em 22-9-1837, faz hoje 172 anos, o pároco encomendado de Beijós escrevia num registo de óbito: No dia vinte e dois de Setembro de mil e oitocentos e trinta e sete faleceu de morte violenta sem sacramentos alguns por não dar tempo, João Peixoto de Beijós casado com Joaquina Maria de Figueiredo do Lugar da Póvoa d’Apegada.
Passados cinco meses, uma correspondência com origem em Oliveira do Conde descrevia a morte violenta do malogrado João Peixoto:
«os assassinos forão um Tenente C. de Midões, um seu Capitão, e outro F. M; que vinhão da Feira de Viseu, e que em presença de muita gente do povo e da que ia e vinha da feira o assassinárão com 3 tiros às duas horas da tarde. Correm a sua victima, diz a carta, dando talvez ainda os ultimos arrancos da morte, retalhão-lhe as mão com facadas, esfaqueão-lhe a cara, cincão-lhe os olhos e carregando outra vez um bacamarte fazem-lhe a cabeça migalhos! que o desgraçado era filho unico e que deixara em sumo desamparo duas viuvas sua mãi, e sua esposa, e três filhinhos orfãos».
A vítima é identificada neste post como João Peixoto Coelho, filho de Felisberto Coelho de Moura. Tinha 26 anos. Ainda só identifiquei descendência de um dos três órfãos, tendo encontrado um tetraneto na equipa do Beijós XXI. Efectivamente, a esposa do soldado Pais dos Santos era bisneta do assassinado. Qual o motivo do assassínio? João Peixoto era simpatizante do Partido Realista e o seu nome constava de uma lista de contribuintes com donativos para as milícias do partido.
4 Beijos:
Fogo bem de certeza que foi aqui com esta morte que começou a PIDE.Eu fiquei horrorizada com a discrição.Bem eu tenho um obito do meu avo materno que, foi horrivel, não por motivos politicos mas por outros motivos, foi a amante que o matou para o roubar.Foi horrivel,mas este foi muito pior.
Se existe alguem ainda da familia,penso que sim,vai ficar como eu fiquei com este ...nem tenho palavras, para a vida fora.E simplesmente tragico.Comigo foi e eu era bem pequena tinha 5 anos e lembro-me de tudo como se fosse hoje.
ANA PAULA FERNANDES
cruzes credo..
è possivel saber em que local foi isto?
A notícia refere "no mesmo povo", o que quer dizer Beijós, porque no parágrafo anterior noticiava-se outro homicído - leram bem, outro homicídio, mesma causa.
Refere também a notícia que foi "em casa de um tio do desgraçado". Se foi de tio direito, terá sido quase de certeza em casa de João Peixoto da Silva, ascendente dos beijosenses de sobrenome (Bernardo) Cardoso. Como já escrevi em devida altura, ou este "desgraçado" ou o seu tio são os candidatos a ascendentes dos actuais Peixotos de Beijós.
É realmente uma história violenta, um dos muitos casos relatados neste período negro (mais um!) da nossa História, branqueado na História oficial. Neste caso concreto, a notícia alega que o "chefe de assassinos" tem as costas quentes. Como tinha um dos mais temidos, que é visto como semi-herói, um tal de João Brandão. O protector, de Midões, é mencionado neste documento.
Pelos vistos o sentimento de insegurança actual, não corresponde de todo à insegurança propriamente dita.
Nunca, nos oitocentos anos de História de Portugal, houve tanta segurança ou pelo menos tão poucos crimes, mesmo dos mais violentos.
Há cem anos atrás matava-se um homem por umas moedas, em Lisboa havia mais homicidios num mês do que agora há num ano.
Em Beijós, há sessenta anos, ninguém tinha currais com animais ou galinheiros nas fazendas, fora do perimetro urbano, normalmente tinham os animais por baixo das casas de habitação ou em anexos próximos à mesma, pois o furto de galinhas, coelhos, porcos ou ovelhas era normal, de tal forma que ninguém se lembrava de apresentar queixa na GNR ou ao Sr. Regedor.
Bom, se alguém se lembrasse de apresentar queixa, quando o fizesse pela segunda vez, era visto com suspeição, na terceira queixa ganhava o epítuto de COMUNISTA.
Sinais dos tempos.
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