Está a ler o arquivo 2005-2009 do Beijós XXI. A partir de 2010, o blogue passou a ser publicado no endereço http://beijozxxi.blogspot.com

sexta-feira, 20 de março de 2009

Serração da Velha

Teatro de Rua dia 22 de Março de 2009 ás 21hoo na Escola do 1º CEB em Oliveirinha.

4 Beijos:

Anónimo disse...

Em tempos idos, umas décadas atrás, para aí, também tivemos cultores e adeptos da serração da VELHA em Beijós.
Mas, hoje, nesta terra já ninguém “serra” nada. Eu própria já morri, já não corro (que era o que mais gostava). Se me convidassem, agora, para esses passeios de anjos com costas (para pendurarem as mochilas) mas sem alma, nem me reconheceriam, nem por mim dariam conta. Não vale a pena... Mais vale continuar morta, esquecida. Fico triste mas que posso eu fazer?

Dantes era o Entrudo, que até todos os calendários fixavam. Não havia dúvidas. Era sempre a uma 3ª feira. Agora é o Carnaval. Já não tem “VELHAS”. As “Velhas” com aquelas máscaras de negro brilhante, com dentes alvos, boca vermelha e órbitas esburacadas corriam que se fartavam atrás do rapazio atrevidote que, à sorrelfa; lhe tentavam rasgar os míseros farrapos com que cobriam o que era denunciável. Como Velhas que eram, mostravam a sua arte fiandeira, manobrando a roca amaçarocada de estopa nojenta (porque o linho fino era mal empregado). Com “pó de arroz” da lareira perfumavam os cabelos das meninas mais bonitas e prendadas que encontravam para uma pausa na sua correria louca, sempre fitando esse rapazio alvo que perseguiam incessantemente, como se tivessem nascido com esse fado cruel ferreteado na testa.

Do arsenal da perfumaria também constava, em regra, um frasco de “água-de-colónia” tirada da penicada da semana anterior destinado à horta por ser mais concentrada e também o famoso creme de rejuvenescimento para peles cansadas das noitadas de folia, verdadeiros “cremes parisienses” tirados do falo seco do cevado que dera os torresmos do último Inverno, qual unto milagroso.

Depois, fazia-se o enterro do Entrudo, um funeral com padre, sacristão, badalo e tudo. As ladainhas eram infindáveis. As carpideiras, em alvoroço estridente, desfaziam-se em lágrimas. O povo participava no cortejo e toda a gente chorava, chorava. Era um drama imenso. Até eu, velha, me comovia muito. As pessoas nem tinham tempo para dar os pêsames a quem quer que fosse ou porque não havia a quem ou porque o pranto era tal que não sobrava espaço para confortações. Todos sofriam para dentro como se o mundo estivesse a acabar. Não era caso para menos. A folia chegara ao fim. Vinham aí as penitências, os jejuns, as restrições, as bulas a pagar ao cura para que os felizardos endinheirados pudessem comer os presuntos que tinham na salgadeira sem acometer a Deus.

Hoje não há o Entrudo do povo, feito pelo povo. Hoje só há carnaval vindo da loja chinesa, do hipermercado, das telenovelas e da televisão. Não há lugar para “VELHAS” como eu, muda, de lanzudas pernas e que , apenas efeito secundário e muito contra minha vontade, aterrorizava as criancinhas que fugiam a esconder-se debaixo das saias da mãe. Hoje, estas, já nem saias usam, como eu sempre usei, embora curtas. Penso até que fui eu que inventei a mini-saia, modéstia à parte.

Eu, VELHA, (mas não bota–de-elástico) morri e pronto. Já não precisam de me serrar, gente “angélica” e comedora de pastilhas elásticas que, sem o “oxigénio” da NET, asfixiariam antes de uma 4ª feira de cinzas qualquer.

Andreia disse...

Quantos temas terá este texto tão criativo?

Anónimo disse...

Se para além de prémio para o melhor post, for criado prémio para o melhor comentário, voto neste d'"A VELHA".

António disse...

A Velha,
Bem-vinda ao Beijós XXI,
Manda Beijós a toda a Gente.

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