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quinta-feira, 3 de maio de 2007

"O Livro da Minha Vida" - Eulália Rosa dos Santos


"O Livro da minha vida
Tenho-o no meu coração
Para dar aos meus filhos
Para grande recordação"


"Fui criada só com minha mãe e minha avó. A minha mãe trabalhava fora e eu ficava com minha avó. Andava na rua descalça, passava fome, frio e andava com roupa muito velha. Brincava com os outros miúdos ao arco, pião e saltava à corda.
Passei uma vida difícil, tinha pouca roupa. Precisava de lavar o vestido ao sábado para o vestir ao Domingo. Quando chovia era necessário secar a roupa à lareira.
Ia poucas vezes à escola, não tinha muita cabeça e tinha medo da professora. O pouco que sei foi uma moça que me ensinou.
Apesar das dificuldades, até aos 20 anos nunca me senti triste: saltava, cantava, trabalhava ... Lavei roupas para fora, esfreguei casas, encerei cavei terra, cortei mato, reguei...
Por vezes com os rapazes e raparigas da terra, fazíamos bailes ao Domingo, era uma alegria!!
Aos 23 anos tive a febre do tifo, fui tratada pelo doutor José Cardoso Maurício. Estive 7 semanas de cama, quando tive “alta” mal sabia caminhar, não tinha forças nas pernas, gatinhava como um bebé. O cabelo também me caiu. Graças a Deus em breve recuperei todas as forças e recomecei o trabalho.
Trabalhei numa quinta, pela manhã fazia a distribuição do leite, no regresso levava comida para o gado. Ajudei muita gente, procurei sempre ser prestável.
Cozinhei em muitas festas, casamentos e baptizados, fui a cozinheira do meu casamento.
Estou casada há 34 anos, contudo, parecemos recém casados, entre nós não há zangas, tudo se resolve com amor e compreensão. O meu marido é trabalhador rural, temos três filhos.
Em solteira, como já disse, trabalhei muito, mas em casada também. Ajudei o meu marido no campo, vendi pão nas Caldas de S. Gemil, criei os meus filhos, fiz todos os trabalhos domésticos...
Sou feliz, penso que estou na juventude, faço versos, ensaio ranchos, canto. Peço a Deus que meus filhos e netos sejam tão felizes como eu sou."

Eulália Rosa dos Santos

1ª edição: 1987
dactilografado e revisto por Drª Ivone Abrantes: FEV2004
digitalizado por Beijós XXI: ABR2007




D. Rosa foi casada 54 anos com o Sr. António Fernandes (1928 - 2007)

12 Beijos:

Anónimo disse...

Parabéns D. Rosa por ter uma vida tão recheada e ser feliz.
Só não acredito no facto de ser casada a 34 anos, a não ser que o artigo tenha sido escrito a mais de 20 anos.

Unknown disse...

o texto que está escrito aui , está logo no inico do livro, tipo prefácio...e foi escrito qd a senhora rosa começou a compilar os seus versos....

Linda disse...

muitas felicidades para a dona Rosa.
Uma senhora fantástica.

Willoughby disse...

O prefácio do livro já deve ter sido escrito há muitos anos.
Verifica-se que, nesta parte do livro, a Nossa Querida Amiga Rosa da Carmina, dá conta das suas dificuldades, quer na sua meninice, quer na sua juventude, quer depois de casada. Pode dizer-se que a vida para ela foi madrasta, no entanto, temos que realçar a sua postura. As dificuldades da vida tem-nas ultrapassado com luta. Realmente, amiga de ajudar toda a gente. Enquanto miúdo, eu fui visita constante da sua casa, onde havia sempre carinho, para as pessoas amigas e é com grande orgulho que revelo que entre essas pessoas esteve a minha querida mãe.
Sempre soube granjear a estima da sociedade em que está inserida.
Parabéns, Querida Amiga Rosa! Muita saúde e coragem para continuar a sua nobre luta.

Susana disse...

Muitos Parabéns á Srª Rosa, tem muito talento.

Anónimo disse...

No fim do post, está a data da 1ª edição: 1987

Anónimo disse...

muitos parabens a senhora Rosa sempre boa amiga e conselheira
saude e felecidades

António disse...

Em 03MAI2007 pelas 19H30 foi efectuada a seguinte adenda:


1ª edição:1987
dactilografado e revisto por Drª Ivone Abrantes: FEV2004
digitalizado por Beijós XXI: ABR2007

Nuno disse...

Tal como o willoughby, quando eu era criança ía muitas vezes a sua casa. É engraçado que eu acho que me lembro de uma dessas vezes, talvez a última vez que lá fui...
E lembro-me que dessa vez a senhora Rosa queria-me oferecer Cerelac e eu estava rabujento e não quis!
Quando somos crianças somos tão ingratos, não é verdade?

A nossa memória é tão estranha... Em tantas vezes que fui a sua casa ao menos lembro-me de uma delas! Talvez tenha que ser assim. Talvez a memória tenha que guardar um bocadinho de cada coisa para poder caber tudo! Menos mal.

VIVEIROS-BATISTA disse...

parabéns dona rosa.

Anónimo disse...

Tive a honra e a sorte de conviver de muito perto e diáriamente, com a D. Rosa.
Ainda muito jovem ouvia as suas histórias de vida e os seus "discursos", em prosa, em verso, com rima, sem rima, quase sempre com humor e malandrice qb.. era e é ainda, a sua imagem de marca.

Foi um tempo de muito trabalho mas que apesar disso, nos deixou boas recordações de amizade, ensinamentos e admiração mutua.
... Um grande exemplo de luta nas adversidades duma já longa vida.
Que continue Feliz...

Obrigado à minha amiga D. Rosa.

Micas10 disse...

Os versos, as cantigas, as danças da Sra Rosa da Carmina são um património a registar.
Alguns dos jovens ainda aprenderam a dançar no rancho infantil que ensaiou, um dos serviços que prestou à comunidade.

Muito obrigada!

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