Os resultados escolares mais baixos entre as comunidades estrangeiras
Decidi abordar aqui este assunto por 2 razões:
- O insucesso escolar dos alunos portugueses já foi objecto de várias postagens aqui no blog, sobretudo num tom que identifica a escola como principal foco de responsabilidade pelos maus resultados;
- O Beijós XXI conta com uma mão cheia de leitores regulares na comunidade emigrada na Suiça.
Vamos, então, ao assunto.
Os media portugueses veicularam na semana finda a polémica e a indignação causadas por um documento interno da Conferência Suiça dos Directores Cantonais de Instrução Pública. Parece que a indignação não tem por base o facto relatado numa recomendação aos Cantões, a saber, que os alunos portugueses têm piores resultados do que qualquer outra comunidade imigrante, mas nalgumas explicações não científicas que a tal recomendação incluia.
Já falarei das "razões", mas acho que não podemos ignorar o resultado. Até agora (isto para quem não se informa em detalhe sobre os problemas da educação) estávamos convencidos de que os alunos portugueses não rendem por causa da escola - maus professores e "falta de condições" na escola. Afinal, se os alunos portugueses forem colocados num país desenvolvido, supostamente com bons professores e boas escolas, também não rendem... ó diabo, queres tu ver que o problema não é só das escolas?
Falemos, então, das causas. Não vou seguir o que se escreveu na dita recomendação, mas antes um estudo científico publicado em 1998 (disponível aqui em PDF, para quem sabe ler francês ou alemão). Convém esclarecer que este estudo teve financiamento porque, para o sistema escolar público suiço, os alunos portugueses são um problema, agravado quando se verifica o padrão de emigração típico da comunidade portuguesa - emigram em primeiro lugar os progenitores (ou apenas o pai), com um "permis A", i.e. autorização de trabalho temporária, ficando as crianças em Portugal, educadas numa família onde pelo menos um dos progenitores está ausente; quando a situação de "permis" se altera e toda a família pode fixar residência na Suiça, as crianças interrompem um percurso escolar iniciado em Portugal, o que dificulta a integração.
As principais causas de insucesso encontradas são:
- Baixo nível de formação escolar/profissional dos pais - quanto mais baixo, mais fracas as notas dos filhos (este é o factor estatisticamente mais importante); tendo em conta os modelos de educação familiar, o que é verdadeiramente importante é o nível de escolaridade da mãe;
- Nascidos em Portugal têm piores resultados do que os filhos de imigrantes portugueses que nasceram na Suiça;
- Dentre os nascidos em Portugal, quanto mais cedo mudaram para a Suiça, melhores são os resultados - o limiar é a idade do ensino pré-escolar;
- Dentre os nascidos em Portugal, os que passaram um tempo vivendo numa família sem um (ou ambos) dos progenitores, têm piores resultados.
Estes resultados não podem surpreender minimamente quem estudou um pouquinho de sociologia da educação; quando eu o fiz, já lá vão 20 anos, o conhecimento científico da época deixava bem claro que a principal causa dos resultados escolares não está na escola, mas sim na família. Em qualquer sitema de ensino, têm mais dificuldades os alunos cujos pais não têm competência e/ou disponibilidade para acompanhar as actividades escolares dos filhos.
8 Beijos:
Esta regra geral que o aproveitamento escolar dos filhos depende principalmente do nível de educação da mãe. sugere a importância de investir nas raparigas e mulheres, ver Mothers of Invention.
Felizmente, Beijós tem muitas excepções a esta regra, casos de famílias que passam da ensino primário para cursos superiores numa única geração.
Para mim ,será um pouco exagerado dizer que depende do nivél de educação da mãe.
Agora, concordo com o facto de que cada vez o acompanhamento escolar é essencial.Hoje cada vez se torna mais dificil,já que carga horária laboral muitas das vezes não o permite.
Eu posso falar na primeira pessoa:entre sair de casa às 8h da manhã e regressar às 8h da noite,que disponibilidade existe para colocar o filho na escola e ir buscá-lo?
Portugal não tem um empresário como aquele de perto de Santarém, que se preocupa com os filhos dos seus funcionários ao virar de cada esquina.Infelizmente!!1
Para se poder investir nas raparigas e mulheres , teriamos que viver num país que desse prioridade à educação e em que os pais tivessem maior disponibilidade de tempo para a FAMÍLIA .
Isabel Clara, a relação entre desempenho dos filhos e nível escolar da mãe, não é "para ti", nem "para mim" :) É um resultado estatístico apoiado numa teoria sociológica.
Vamos supor que divides as mães em grupos, em função da escolaridade (1º ciclo, 2º ciclo, por aí fora); depois calculas as médias das notas dos filhos em cada um dos grupos; a teoria estará correcta se as médias das crianças cuja mãe tem 2º ciclo forem superiores às das que têm o 1º e inferiores às das que têm o 3º. Além disso, essas diferenças nas médias têm de ser suficientemente grandes para o modelo ser válido. Foi isso que aconteceu neste estudo, como em muitos outros.
Há várias explicações para isto, desde o nível de aspirações a "subir na vida", até à importância que a família dá ou não dá à escola. Uma das principais, no entanto, é o acompanhamento em casa dos conteúdos tratados na escola; foi essa que eu referi no post.
Este acompanhamento torna-se ainda mais necessário quando não há professores disponíveis na escola para acompanhar os alunos de forma personalizada - aí sim, entra o factor escola, i.e. a importância da escola para o sucesso.
A solução é simples.
Fazer emigrar o pessoal, quanto mais cedo melhor.
E se possível para a Suíça.
EM APOIO AOS EMIGRANTES.
SOU MAE E AVO EMIGRANTE;CRIAR FAMILIA EM QUALQUER PARTE DO MUNDO E'SEMPRE DIFICIL,MAS PIOR PARA EMIGRANTES ONDE NAO HA APOIO FAMILIAR NEM SEQUER VIZINHOS PORQUE NAO OS CONHECEMOS.
FALANDO POR EXPERIENCIA PROPRIA;TENTAR APRENDER O IDIOMA LOCAL AO MESMO TEMPO (OU ANTES)QUE OS FILHOS AJUDA A COMPREENDER O SISTEMA ONDE SE VIVE ASSIM SE PODE AJUDAR E ENCORAJAR AS CRIANCAS MAIS FACILMENTE.NO ENTANTO OS PROFESSORES SAO OS PRINCIPAIS RESPONSAVEIS PELA INSTRUCAO ESCOLAR ,OS PAIS NECESSITAM
PRESTAR ATENCAO AO DESENVOLVIMENTO ESCOLAR E AI' A NECESSIDADE DE SABER FALAR O IDIOMA LOCAL PRA CONTACTAR COM PROFESSORES ETC. EDUCAR OS FILHOS COMECA NO BERCO, NESSE CASO A EDUCACAO COMPETE NA MAIOR PARTE AOS PAIS. COM CRIANCAS QUE SE PORTAM BEM OS PROFESSORES MAIS FACILMENTE ENSINAM OS ALUNOS SEM DESPERDICIO DE TEMPO MESMO QUE SEJAM 35.
NOUTROS TEMPOS HAVIA PAIS, ALGUNS QUE NEM SEQUER SABIAM LER,SE TINHAM POSSES MANDAVAM OS FILHOS (ESTUDAR) E ELES TIRAVAM BONS RESULTADOS,FORMAVAM-SE ATE EM DOUTORES E NAO ERA COM AJUDA ESCOLAR DOS PAIS.CLARO QUE E BOM OS PAIS AJUDAR OS FILHOS (AJUDEI OS MEUS E AJUDO OS NETOS) MAS NEM TODAS AS PESSOAS TEM POSSIBILIDADES DE O FAZER SEJA QUAL FOR O MOTIVO.
INTEGRACAO DA FAMILIA NO LOCAL ONDE SE VIVE E IMPORTANTE PRA AS CRIANCAS SE SENTIREM CONFORTAVEIS NO NOVO AMBIENTE, E PARA 0S PAIS DE CERTEZA TERAM MENOS CONFLITOS.
Certo beijokense, modéstia à parte, a carapuça não me assentou.
É claro que a ajuda pós escolar é imprescindível.
Como disse no outro comentário, a carga horária de trabalho,reflete-se também aí.
Chegar 8 da noite, banho, jantar que horas serão? Aí torna-se dificil aos filhos já cheios de sono, a atençao suficiente para a ajuda que os pais lhe possam e devam prestar.
Daí que para mim, conceito FAMÍLIA, não é só dar, é nesseçário estar, que é muito mais importante e cada vez mais difícil
Lucia Abrantes disse:
«NOUTROS TEMPOS HAVIA PAIS, ALGUNS QUE NEM SEQUER SABIAM LER,SE TINHAM POSSES MANDAVAM OS FILHOS (ESTUDAR) E ELES TIRAVAM BONS RESULTADOS,FORMAVAM-SE ATE EM DOUTORES E NAO ERA COM AJUDA ESCOLAR DOS PAIS».
Cara Lúcia, vamos separar as excepções da regra. Eu dou um exemplo na área da saúde, que me parece facilmente inteligível.
Eu tive um avô que, durante grande parte da sua vida teve um índice de massa corporal superior a 36, fumava 30 cigarros por dia (e um charuto de quando em vez), bebia mais de um litro de vinho e alguns uísques por dia. Morreu com 84 anos.
O meu outro avô nunca teve excesso de peso, bebia água-pé, nunca fumou. Morreu com 76 anos.
Posso por isso concluir que excesso de peso, álcool e tabaco aumentam a longevidade?
Obviamente, todo o conhecimento científico aponta precisamente no sentido inverso. Os meus avós são excepção, não regra.
O que diz sobre os "outros tempos" é, obviamente, excepção. Eu fiz o 6º ano de escolaridade em Beijós, há cerca de 30 anos. De Beijós, Pardieiros e Sangemil, éramos cerca de 40 do mesmo ano. 2 chegaram ao ensino superior (embora 1 deles já depois de experiência profissional); só mais 1 chegou ao secundário; e não me lembro de mais nenhum que tenha completado o 9º ano (se há por aí algum, que se acuse...). Isto, sim, é a regra.
Beijós até deve ter um rácio de licenciados acima da média, nas aldeias do interior do país.
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