A presença de Aristides de Sousa Mendes ...
Francisco Seixas da Costa
Diplomata. Embaixador de Portugal no Brasil
escreveu no Diário de Notícias
«A presença de Aristides de Sousa Mendes entre os dez nomes mais votados no concurso Os Grandes Portugueses constituiu para mim, ao mesmo tempo, uma surpresa e uma ironia.
Uma surpresa porque, não obstante já muitos conhecerem a história do diplomata que desobedeceu às suas instruções para obedecer à sua consciência, oferecendo vistos aos refugiados judeus que procuravam o consulado português em Bordéus, não estou certo de que a nossa sociedade tenha já, nos dias de hoje, uma sensibilidade ética tão apurada que a leve a optar espontaneamente pelo seu nome. Por isso, só posso louvar quantos se tenham mobilizado para assegurar o voto na figura honrada de Aristides de Sousa Mendes.
A suprema ironia da sua inclusão nesta lista deriva, naturalmente, do facto de, a seu lado entre "Os Grandes", figurar António de Oliveira Salazar, o chefe do Governo cujas ordens ele não respeitou e que, por essa razão, viria a destruir a sua carreira e a sua vida pessoal. Dirão alguns que Álvaro Cunhal também figura nessa lista, e foi bem mais perseguido que Sousa Mendes. São coisas de natureza diferente: Cunhal foi um líder partidário e simbolizava a outra face da vida política portuguesa. Salazar e Cunhal foram figuras mediáticas, nomes que recolheram emoções e polarizaram o País. Por isso, cada um a seu modo, foram personalidades com poder e influência, seguidos por legiões de prosélitos. Aparecerem agora votados pela nostalgia destes últimos faz parte das leis da vida.
(...)»
Fonte: Diário de Notícias
A votação para a eleição do Grande Português no programa da RTP faz-se, apenas, por telefone.
Cada um dos 10 finalistas tem um número de telefone que lhe está associado.
Aristides de Sousa Mendes, tem o nº 760 102 004.
Para ligar do estrangeiro: 00351 760 102 004
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3 Beijos:
Pôr em primeiro lugar a vida de tantos milhares de pessoas em vez dos seus interesses pessoais ou mesmo do seu bem-estar e de sua família é um passo de gigante no caminho da civilização. Ao contrário, Salazar tem as mãos manchadas de sangue, de entre tantos outros, o do General Humberto Delgado que ousou desafiá-lo, com o “obviamente, demito-o”.
O que Sousa Mendes fez não foi um acto irreflectido ou fruto das circunstâncias mas sim uma escolha absolutamente consciente. Tudo o que se passou até à sua morte em 1954 foi uma reafirmação de um grande acto de consciência, de humanidade e de altruismo.
Vale bem a pena ler todo o artigo do Embaixador F. Seixas da Costa. Ver link para o Diário de Notícias.
Parabéns ao António por este post e aproveito para dizer o mesmo sobre o post colocado por Vadio, cópia de um bom artigo do Jornal de Leiria.
Não tem sido fácil a luta pela reabilitação do nome de Sousa Mendes, como refere Seixas da Costa.
Eu não duvido. Ainda há muitos por aí que bem gostariam que a condenação de Salazar a Sousa Mendes se prolongasse ainda mais no tempo.
Saído no site do Expresso, a propósito da aprentação ontem, dia 8/2/2007, do livro "Vítimas de Salazar":
"...Soares (Mário Soares) pronunciou-se ainda contra o que designou de "tentativas hipócritas e sofisticadas, não frontais, que se detectam na sociedade portuguesa" para desvirtuar o que foi o regime de Salazar. Tratou-se de uma óbvia alusão à votação que tem recaído sobre a figura de Oliveira Salazar no âmbito do concurso da RTP "Os Grandes Portugueses". "O fascismo assassinou, deportou, censurou e exerceu toda a espécie de violências", sublinhou Mário Soares, que se manifestou ainda "absolutamente convencido que quem ganhou as eleições presidenciais de 1958 foi o general Humberto Delgado"
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