quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Os Nossos Atletas Paralímpicos em Pequim

"Bento Amaral ficou tetraplégico, aos 25 anos, à boleia de uma onda na praia. Já numa cadeira de rodas, quis terminar o curso de Engenharia e, mais tarde, voltar a fazer vela. O atleta será um dos 35 a representar Portugal em Pequim.

Decidiu que tinha chegado o dia em que iria passar a andar de cadeira de rodas – mas nenhum momento da vida é fácil para sentar os sonhos. Muito menos aos 26 anos. As pessoas reparavam que tinha um andar diferente – deixou de correr e até tropeçava caminhando apenas. Só que Bruno Valentim estava com alento ao decidir dar movimento à vida. Queria acompanhar os amigos à discoteca, ao centro comercial, ao café, e não podia ser uma doença neuromuscular degenerativa a pará-lo. Nem hoje é desculpa. Aos 42 anos, o atleta de boccia vai representar Portugal nos Jogos Paralímpicos de Pequim, China.

Há quatro anos, nos Paralímpicos de Atenas, Grécia, os portugueses trouxeram duas medalhas de ouro, cinco de prata e cinco de bronze. Este ano, teremos 35 atletas a competir em sete modalidades – atletismo, natação, boccia, equitação, ciclismo, remo e vela –, entre os dias 6 e 17 de Setembro.

Boccia joga-se num campo rectangular em equipas de três, ou a pares ou individualmente. A bola branca é o alvo e o objectivo é cada jogador (ou equipa) aproximar as suas bolas coloridas desta. Para Bruno Valentim o desporto não era novidade – até ao 9.º ano praticou mais de dez desportos, incluindo natação, andebol e equitação; e foi também, aos 13 anos, que a doença se começou a manifestar. Quando, em 1996, o jogo do boccia deixa de ser exclusivo para pessoas com paralisia cerebral, ele foi convidado. 'Finalmente, ao fim de 15 anos, podia voltar a praticar desporto.' Nunca deixou de trabalhar e estudar. Com dois pós-doutoramentos, é professor de Ciências Naturais do ensino básico e secundário, no Porto. E foi convidado para investigador auxiliar no Centro de Geologia da Universidade do Porto.

Bruno tem deficiência motora ao nível dos braços, das pernas e do tronco. No boccia é dos melhores. 'Nunca perdi um pódio até agora, em cerca de 40 competições.'
Do que assistiu dos Jogos Olímpicos, considera que 'as duas medalhas [a de ouro de Nelson Évora e a de prata de Vanessa Fernandes] são o resultado do sucesso de uma delegação com 72 pessoas'. Ele próprio vai tentar não falhar a medalha. À partida para Pequim, o atleta revela que ganha uma bolsa de 400 euros (durante 12 meses) e um prémio superatleta de 150 euros, este último pago pela Federação de Desporto para Deficientes.

A possibilidade de vir a sofrer problemas na coluna devido a má formação congénita num braço fez Leila Marques mergulhar na piscina pela primeira vez aos três anos. Aos 13 estreou-se na alta competição e em poucas ‘braçadas’ estava no pódio. Em 2000 bateu o recorde mundial de pista curta dos 100 metros bruços.
Dos campeonatos do Mundo de 2002 e 2006 trouxe duas medalhas de bronze individuais e uma de prata nas estafetas e, nos Paralímpicos, conseguiu o quinto lugar. Para Pequim, o sonho é voltar aos primeiros lugares.
(...)

Também convencido que os 'atletas portugueses vão para os Olímpicos e Paralímpicos para dar o seu melhor' está Carlos Lopes – homónimo do primeiro português a ganhar o ouro nos Olímpicos. Não é cego de nascença. Piorou a partir dos 15 anos. 'Em certas fases foi desesperante. Há um momento em que teimamos em não aceitar as coisas. Mas depois há também o momento em que aceitamos viver com o que temos.' Aos 18 anos, já Carlos andava de bicicleta à noite guiado apenas por um forte clarão que indicava os postes de iluminação. Os pais evitavam falar da sua doença e ele viveu-a solitariamente.
'Não existe o dia em que deixo de ver completamente. O momento que associo a ser cego foi quando comprei a minha primeira bengala, aos 21 anos' – conta Carlos Lopes. Foi também nesse ano que o então estudante universitário contactou mais de perto com pessoas com deficiência visual. As mesmas que o convidaram à prática desportiva. Daí até ser o atleta mais medalhado de sempre passaram 18 anos. Sempre acompanhado pela Gucci, a sua cadela guia, aos 39 o atleta – para quem não ver é mais uma característica sua – vai correr pela última vez (será a quinta) nos Paralímpicos. Vai parar não pela idade. Este ano já bateu o seu recorde pessoal dos 100 metros. É porque acumula a sua profissão de psicólogo, na área de orientação escolar e profissional, com a presidência da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal."
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Fonte: Correio da Manhã

Notícia enviada pelo nosso leitor Francisco

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