domingo, 18 de maio de 2008

Dia dos museus e o que falta fazer

Dia 18 de Maio foi o Dia Internacional dos Museus.

Os museus são, em todo o lado, factores de desenvolvimento. São escola, são factores de valorização pessoal e social.

No que respeita ao interior menos urbanizado do país, a população diminuiu nas últimas décadas mas isso não significa menos interesse pelas coisas da sua terra e das suas raízes dos que ficaram e dos que partiram. Talvez pelo contrário.
Todos sentem a necessidade de saber como era a vida dos seus avós, quais eram as técnicas e as canseiras para ganhar o pão e alimentar as proles.

Por isso é tão importante, guardar e conservar vestígios do passado como ferramentas, técnicas de trabalhos agrícolas, tecnologias usadas como os lagares de azeite e de vinho, as técnicas de regadio, o pastoreio, as formas de alimentação, o fabrico de pão caseiro, toda a culinária, mesmo as tradições de festas religiosas, pagãs e outras.

Estamos a falar das manifestações culturais donde procedemos, das raízes que nos empurram e de certa forma nos condicionam no falar, no sentir, no viver. As gerações actuais e futuras são fruto de todo um passado que importa ter presente, que queremos, que precisamos de conhecer e de transmitir de forma organizada e conservada aos vindouros.

Por isso os museus, os núcleos museológicos, as casas-museus, tudo o que nos conte, tudo o que avive a memória do passado, são tão importantes.

A revitalização de muitas aldeias e vilas também passa por organizar essas memórias, evitando que o tempo as destrua, tornando-as crescentemente interessantes e dignas da atenção de todos.

Felizmente muitas das autarquias dessas vilas e aldeias de Portugal já perceberam a importância de recuperar, preservar e mostrar os vestígios e as memórias do passado.

Em Carregal do Sal, têm-se dado passos bons nesse sentido, com a criação do Museu Municipal, com a contratação de um arqueólogo e outros técnicos, com a recuperação de sítios arqueológicos e com a organização desses espaços.

Mas o concelho dispõe ainda de muito património histórico que não está recuperado e organizado e que permanece encoberto sob a poeira do tempo, mais ou menos abandonado e esquecido.
Refiro-me, à Casa do Passal e à memória do grandioso exemplo de Aristides de Sousa Mendes. Mas não só. A Filarmónica de Cabanas de Viriato tem um acervo instrumental, artístico e histórico que ficaria bem de portas abertas na bonita vila de Cabanas de Viriato e que bem podia complementar as diversas actividades culturais da Sociedade Filarmónica.
Os Bombeiros Voluntários de Cabanas e de Carregal têm, também, muito que contar e que mostrar do seu passado de trabalhos mas também de sucessos.

No campo da indústria, temos uma História muito interessante no mobiliário em madeira onde pontificaram artistas e empresas do melhor em Portugal. Os artesãos ferreiros e serralheiros têm, também, uma grande tradição entre nós, mas falta reunir, organizar, preservar e mostrar os utensílios, as oficinas e toda essa riqueza artística e económica do passado.

Na agricultura falta fazer todo um trabalho de recuperação de ferramentas, de técnicas de trabalho no campo, na eira, na conservação dos cereais, no fabrico do queijo, etc.

Muitas pessoas cederiam de bom grado esses materiais a um depositário credível para fins museológicos.

Não se pode fazer tudo num dia. É verdade. Mas um dia que passa há algo de importante que se pode perder, como está a acontecer com a Casa do Passal, em Cabanas de Viriato.

Além disso, estão aí programas de incentivos financeiros que talvez permitissem fazer mais. Essas oportunidades não deviam ser perdidas. Podem não voltar tão depressa.

Comemoremos o dia dos museus, visitando-os todo o ano. Mas devemos também lembrar-nos do que falta fazer, do património que se está a perder e que, pequeno ou grande, é importante para os de cá, para os de fora que nos visitam e, sobretudo, para valorizar a região.

António Abrantes

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