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sábado, 8 de março de 2008

Dia da Mulher

«A mulher é uma degenerada, disse eu. Está claro que a phrase não aspira a mais que exprimir sob uma forma paradoxal uma grande verdade, qual é a inferioridade psychica da mulher, sua estreita dependência do homem e um certo grau de anomalia mental que a torna meio antagónica com o ambiente social. A degenerescência, que resulta d'uma construcção cerebral defeituosa, representa-se pela ausência ou diminuição da faculdade de adaptação ao meio e pela tendência à eliminação espontanea na sucessão das grerações. (...) O organismo inteiro é uma decadência; só o ovulo se salva no grande desastre.»
Miguel Bombarda, Lições sobre a Epilepsia e as Pseudo Epilepsias, (Lisboa, Livraria António Maria Pereira, 1896), p. 130

  • Como é patente nesta lição na Faculdade de Medicina de Lisboa, os mentores da República consideravam a mulher um ser geneticamente inferior; o regime republicano não pôs em causa a ciência dos correligionários positivistas e nunca as mulheres tiveram direito a voto durante a vigência da 1ª República.

  • Paradoxalmente, a ditadura militar viria a consignar o direito de voto das mulheres (em 1931), mas só aquelas que fossem "chefes de família", i.e. não fossem casadas ou, sendo casadas, o respectivo marido estivesse emigrado.

  • Um regime semelhante vigorou durante o Estado Novo. O Salvador da Pátria e filósofo primeiro do EN dizia que a família, «célula social irredutível, núcleo originário da freguesia, do município e, portanto, da Nação: é, por natureza, o primeiro dos elementos políticos orgânicos do Estado Constitucional»; assim sendo, para que sobrecarregar dois (ou mais) elementos duma mesma família com o encargo do voto? Votava o chefe de família, naturalmente o marido, já que a esposa e os filhos lhe deviam a obediência. Era a consagração constitucional da expressão popular «onde há galo não canta galinha», como se pôde ver aqui no Recenseamento de 1954.

  • Com a democracia chegou a igualdade plena no campo do direito mas, no mundo das hierarquias políticas e empresariais (já para não falar nas militares...), continua-se a cantar de galo, poucas mulheres chegam ao poleiro, seja pelas dificuldades que lhes criam, seja porque a maioria delas não têm essa ambição. Ainda assim, o seu peso político é cada vez maior, como se constata na actual guerra aberta entre a Ministra da Educação (uma mulher) e os professores (esmagadora maioria de mulheres). Há uns tempos eu até pensava que o mundo poderia ser melhor se fosse governado por mulheres... ainda bem que esta garnizé da 5 de Outubro me fez mudar de ideias, livra! :-)

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